sábado, julho 15, 2006

crítica - Eu, você e todos nós (2005)

crítica de filme
Eu, você e todos nós (2005)

O filme de Miranda July é autoral. Não tenho muita certeza do que quero dizer com isso, mas tenho essa impressão ao ver na figura de cada personagem uma faceta evidente da roteirista que também é diretora e atriz. July aparece como crianças curiosas, explorando o mundo sensível à sua volta, abertas aos desejos e estranhezas que lhes acometem. July também aparece como adultos machucados, atentos ao mundo sensível à sua volta, carentes e inseguros aos desejos e estranhezas que lhes acometem.
Isso se aplica também ao ambiente seguro do filme. Todos se conhecem, são de alguma forma familiares. Os traumas também são de família, cerceados por um confortável colchão de amor (não romântico) que não os impede de se machucar, mas alivia bastante. Queimar a mão ou morrer sozinho não são problemas que cortam fundo, já que queimar a mão é torná-la sensível ao toque do amor, assim como o amor impede de que estejamos sozinhos afinal. Há amor por todos os lados, sensibilizando todo mundo.
E é isso que pode tornar o filme insuportável para alguns espectadores. Seguros, todos se permitem uma ingenuidade que, se adequada ao universo infanto-juvenil, pode se tornar insólita quando se envolve os "adultos" do filme. Nada é levado às últimas conseqüências, porque seria muito cruel. Mas isso não é a vida, é um filme. Na vida os adultos ingênuos - ou sinceros e sensíveis - sofrem demais e July não quis fazer um filme sobre os sofrimentos da sua vida, mas sua percepção sobre como ela deveria ser. É questão saber se a dela combina com a do espectador.

cinema: Espaço Unibanco
nota: 6,5

sexta-feira, julho 14, 2006

crítica - Bubble (2005)

crítica de filme

Bubble (2005)

O filme de Steven Soderbergh é uma mostra de que a plastificação do cotidiano não se limita à classe média alta americana. Sua história é sobre os operários de uma fábrica de bonecas que se vêem envolvidos num caso de assassinato, o que pode ser inconveniente, mas ao menos dá aos personagens uma história. Sem isso, a vida passaria a seus olhos como apenas mais uma seqüência de acontecimentos sem intervalos comerciais.
Se o produto de seu trabalho é uma forma de expressar quem você é, ou se isso é uma baboseira filosófica, ao menos em Bubble, essa tese se renova. Aqui confundem-se os olhos inertes das bonecas com os daqueles que as produzem - seja dirigindo o carro, assistindo à TV, ou estirados mortos no chão, Martha, Kyle e Rose não parecem diferenciar se a situação é de intimidade, cansaço ou tensão. Os rostos das bonecas ao menos expressam choro e alegria, mas, convenhamos, não são seus rostos que têm de operar as máquinas.
É um bom filme para nos questionar se o que fazemos é apenas produzir cópias deformadas sobre o que não nos atrevemos ou podemos falar, numa fuga de si, ou se conseguimos, depois dos problemas financeiros, responsabilidades familiares e de nossas próprias angústia, achar um tempo para nós, nesses tempos que, definitivamente, não são pós-modernos.

cinema: Espaço Unibanco
nota: 7,5