segunda-feira, dezembro 04, 2006

Estudos I

A beleza das pessoas que conheço está sempre associada a uma certa infelicidade, uma tristeza contígua, uma dimensão apreensível apenas nas latências da experiência estética que se apresenta. Observo a garota, uma menina cuja beleza transparece nos gestos joviais de uma sensualidade inocente. A lembrança dela é a imagem de um sorriso e um olhar distante.Uma figura linda, que não manifesta traço algum de melancolia, só uma reticência que não se conclui. E aí se desvela um medo da incerteza e uma incerteza de fato. Angustiante figura se revela nos instantes efêmeros em que o sorriso se vai e o resto se congela, a beleza no movimento triste de uma atitude que lida de forma bem sucedida com um mal que nos atordoa a todos. Há outra, ereta e elegante, exprimindo personalidade e força, a beleza em sua atitude de entrega a um fim que se delegou. Alguém não apenas verdadeiramente lindo, mas também apaixonante. Nos momentos de fragilidade e descontração também se entrega radiante, demonstrando a flexibilidade madura de uma vida da qual muito se exigiu. É aí que está a dimensão triste, o construto social, adequado, do qual nos revestimos, a inseparabilidade da manifestação autêntica do ser e os formatos sociais. Há ainda o rapaz inteligente e sério. Sua beleza é agressiva, sua convicção e seus fundamentos o enobrecem. Mas quando se aproxima daquela menina, forma a mais bela figura, fica absolutamente confortável e descontraído, se diverte como um menino na forma de homem pode se divertir. O triste aqui está muito mais evidente, mas não menos digno de compaixão. A união e a parceira que tanto deseja não tem reciprocidade, seu desejo se acumula em instintos agressivos e amargor que constroem exatamente sua nobreza. Pensando noutro jovem, cheio de potencial, tão vazio de objetivos. Ou noutra garota, mulher-desejo, uma sedução involuntária de alguém que quer vínculos duradouros, mas só encontra lobos afoitos. Todos lindos, todos tristes. Mas no final dessas observações questiono eu: ao enxergar tristezas nos outros que estes nem mesmo reconhecem, será que tais desventuras estão mesmo sob a beleza que vejo, ou estão inculcadas no olhar do observador? Fugidio, vejo somente eu no que quero enxergar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Demais... "uma reticência que não se conclui"