segunda-feira, abril 06, 2009

Encontros e Desencontros

Quando Bob Harris (Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson), no filme de 2003 Encontros e Desencontros (Lost in Translation, Sofia Coppola), se encontraram em um hotel em Tóquio, cada um carregava um casamento opaco e frustrações com os rumos da vida. A identidade foi instantânea, a crise de meia-idade e as incertezas de uma recém-formada se envolveram no questionamento: o que fiz, o que estou fazendo e o que farei com a minha vida?

No último final de semana, dois aniversários reuniram pessoas que há muito não se viam no Eclético's. Amigos na faixa dos 23 a 27 anos que compartilharam faculdade, projetos e sonhos e agora se distribuem – não necessariamente dispersos – pelo Brasil e o mundo. As perguntas de Bob e Charlotte eram inevitáveis.
Pode ser que tenha sido uma noite de desencontros. Estávamos lá porque tivemos um dia um cotidiano em comum que não vai voltar. Ao mesmo tempo, um certo cotidiano opaco esvaziava conversas para níveis básicos de reconhecimento – “Por onde anda, como está” – e a repetição das respostas mostrava como a vida foi ficando circunscrita a algumas poucas palavras que hesitamos em repetir. Chegamos a agradecer a mídia de massa por dar assuntos em comum.

Pode ter sido, no entanto, também uma noite de grandes encontros. Estávamos lá recuperando um vínculo que não se dissolveu. Ao mesmo tempo, as boas notícias nos davam energia e possibilidades, enriquecendo conversas com planos em comum, identidades inesperadas, superações encantadoras. Quando repetíamos nossas respostas, aos poucos a noção de uma identidade, uma segurança do que já foi construído foi se assentando, nos preparando para os próximos passos. E foi sensacional descobrir que compartilhamos as mesmas impressões por alguns fatos que passam na mídia, gestos e saudações – “Ma man!” – que acabam nos aproximando.

No desemprego ou tendo que escolher entre Paris e Genebra, as crises variavam de origem. Mas as incertezas e o desejo por um rumo eram constantes – e era isso que dava conforto, não estávamos sozinhos, todos em contínua formação. Está muito difícil, não sabemos se vai dar certo, mas continuamos no percurso, todos juntos em suas vidas separadas.

As risadas, sorrisos e abraços em meio à luz melancólica do boteco da metrópole da solidão funcionaram como aquele sussurro de Bob a Charlotte. Cada um está seguindo seu caminho, mas foi tudo que precisávamos para continuar.

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